sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Serviços de Telecomunicações: Brasil x USA

Postei no Twitter que acho o serviço de telefonia celular caro no Brasil. Deixa eu me explicar...

Depois de quase um ano e meio nos EUA você se acostuma com certas coisas daqui e se desacostuma com as coisas do Brasil.

Trabalhava na Oi na época do lançamento da primeira rede GSM do Brasil. Todo mundo sabe da promoção 31 anos. Uma vez estava numa fila de caixa em uma grande loja e um cara na minha frente passou quase uma hora falando no celular sem dizer nada que fosse útil. O cara estava pendurado no celular só porque era de graça. Enquanto minha esposa me pedia calma (eu já estava a ponto de tomar o telefone do cara) uma senhora atrás de mim na fila solta a pérola: "Eita, a Oi se lascou com esse aí...". Só me restou olhar para ela e dar um sorriso amarelo.

Mais ou menos na mesma época encontrei um amigo que trabalhava na Claro durante uma viagem ao Rio. Ele me disse que a Claro passava por problemas de congestionamento por conta de uma promoção que permitia falar de graça dentro da rede da Claro a partir das 21h. O que os "espertos" clientes faziam? Usavam o celular como babá eletrônica! Não tem rede que aguente isso.

Trabalhava na Claro na época do lançamento da rede 3G em Recife-PE. Vindo de Maceió-AL um amigo me liga perguntando se esse negócio de 3G era bom mesmo (engraçado que eu estava passando bem na frente da casa de praia dele). Disse a ele que sim, que funcionava bem, que o problema é que as pessoas queriam ficar penduradas no eMule e no Torrent baixando músicas e filmes ilimitadamente. Aí veio mais uma pérola: "Ôxe, mas é pra isso mesmo que eu quero, o VELOX é muito caro!".

Ainda trabalhava na Claro quando soube que um comerciante de Toritama entrou na loja do Shopping Recife e pediu para comprar 10 modems 3G. A gerente perguntou onde ele ia usar para verificar a disponibilidade do serviço. Ele falou que ia usar em Toritama. Mas a Claro não tinha cobertura 3G em Toritama! Ele respondeu que pelo plano 3G ele poderia usar a rede 2G sem limites. O cliente pretendia pendurar uma LAN House na rede 3G! Por que? Porque não tinha outra opção mais barata de acesso fixo.

Contei esses 4 episódios para comparar o que vejo aqui nos EUA. Todas as operadoras oferecem em seus planos mais básicos a funcionalidade de chamadas dentro da rede ilimitadas. Dentro da rede significa em qualquer lugar dos EUA, não existe mais chamada de longa distância!

Depois das 21h e nos finais de semana as chamadas são totalmente gratuitas. Para qualquer telefone, fixo ou móvel, de qualquer rede. Não se vê ninguem pendurado no telefone nos finais de semana ou à noite só porque é de graça. Outra: uma babá eletrônica aqui custa a partir de US$30, o equivalente a R$30 para um brasileiro pela regra do "um pra um".

Tenho ADSL de 768k em casa por US$19.95 da AT&T. Não preciso ter número fixo para isso e eles ainda me mandaram o roteador wireless. As opções para contratar internet são inúmeras: Telefone, Cabo, Wireless. E nos congressos de telecomunicações que tenho ido por aqui só se fala de FTTH (Fiber To The Home).

Ninguem aqui usa eMule, bitTorrent, Kazaa, etc. para baixar música e filmes. Eles usam iTunes e NetFlix, serviços pagos. Para baixar filmes da rede uso um micro ligado na minha televisão usando o acesso fixo e vejo direto em Full HD.

Quando digo que falta maturidade ao mercado brasileiro é isso. É preciso ter infra-estrutura para que cada serviço seja utilizado da maneira para que foi concebido. Internet móvel não é para baixar 10 filmes ao mesmo tempo com o Torrent ou pendurar uma LAN House nele. Para isso tem acesso fixo com a última milha não compartilhada dando chance de a operadora garantir qualidade.

Pode navegar na Web, Twitar à vontade, baixar arquivos de e-mail, fazer streaming de vídeo, utilzar todas as Apps do iPhone... Parece óbvio que a rede celular deve suportar esses serviços mas não parece óbvio que a rede celular, móvel por definição, não deve ser usada como acesso fixo.